Alex Deneriaz

28 abril, 2015Flávia Frota
Alex Deneriaz - "Amazônia, minha paixão"

Alex Deneriaz – “Amazônia, minha paixão” – Foto: Silvia Castro

Alex Deneriaz

“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Estranho Laço

Eu nunca tive amizade íntima com o Alex, tampouco partilhávamos as mesmas ideias, prazeres e ambientes. Nossa relação era restrita a poucos encontros casuais, geralmente festas de amigos em comum. O que havia entre nós – e aqui falo da minha parte – era admiração, respeito e afeição.

Sentimentos que vinham aflorando mais e discretamente nos últimos anos. O fato surpreendente foi o choque que eu tomei ao saber da doença – e posteriormente da partida – dele. Nem eu mesma entendi o motivo de tamanha perplexidade e comoção.

Quem me conhece sabe que sou extremamente sensível e emotiva, embora do outro lado da minha moeda habite um ser forte como uma pedra, uma pessoa racional e reservada.

Então, para entender realmente meus sentimentos pelo Alex, comecei a refletir e a buscar respostas no passado e nos poucos momentos que passamos juntos, mas que, somados, não foram tão poucos assim. Afinal de contas, apesar de nunca termos sido tão próximos, jamais estivemos muito distantes.

Nossa Linda Juventude…

Querido Alex,

Não recordo bem quando o conheci. A lembrança que tenho de você remonta ao ano de 1989. Eu vivia o auge da juventude, era estudante de Comunicação Social e fazia um trabalho acadêmico sobre Colunismo Social nos Jornais de Manaus. Entrevistamos você, Alberto Chã e Carlos Aguiar. Era época da volta das eleições diretas para presidente, o Brasil fervilhava na vida política e eu borbulhava de curiosidade juvenil.

Embora o assunto da pesquisa não despertasse o meu interesse, você conseguiu se fixar na minha memória como alguém diferenciado. Sua altura, modo de falar e vestir, personalidade forte e autêntica dariam o que lembrar. Você era aficionado por Paulo Maluf e eu abominava este candidato à presidência, mas nossas diferenças não atrapalharam minha consideração e reconhecimento por seu trabalho.

Sua frequência às festinhas de final de semana era assídua. Lembro-me perfeitamente de você nas boates Weekend e Red Zone, na Beth Balanço, nos carnavais do Atlético Rio Negro Clube e em todos os redutos badalados. Destacava-se sempre sua figura imponente e comparo sua presença monumental a uma espécie de Estátua da Liberdade entre nós.

Aqui encontrei a primeira parte da explicação sobre o meu carinho oculto por você: Alex Deneriaz foi um ícone da juventude dos anos 80 e 90, o amigo da Rebelde*. É um laço que une toda uma geração às melhores lembranças de um tempo muito feliz.

Estrelas

Você sabe, Alex, não sou socialite, visto que este mundo nunca me fascinou, mas você e a saudosa Inês Maria Lyra Benzecry – mãe da minha amiga Vladya – têm algo em comum e especial: foram duas personalidades emblemáticas deste mundo de notoriedade, que conseguiram atrair minha atenção e empatia.

Creio que isso se deu porque, apesar do glamour que os envolvia, vocês conseguiam transmitir simpatia e, mais incrível, um conceito não preconceituoso: respeito sem pedantismo e ostentação. Aos meus olhos, vocês não eram antipáticos nem arrogantes, como, às vezes, é comum nesses ambientes mais seletos.

Vocês sinalizavam uma energia de proximidade e de identificação. Isso cativava as pessoas distantes, criava uma aura de admiração e respeito. Vocês irradiavam bons sentimentos até mesmo para quem não fazia parte dos seus círculos de convivência.

Vocês sempre foram estrelas e agora têm o brilho ainda mais intenso a cintilar lá no céu…

Vida Adulta

O tempo passou e continuamos a nos encontrar pouco e esporadicamente, mas a construção do personagem Alex Deneriaz prosseguia no meu imaginário. A cada evento, você sempre acrescentava algum elemento positivo à minha mente.

Nos últimos anos, tivemos a oportunidade de passar um réveillon juntos em Copacabana, no apartamento de amigos comuns. Foi a minha primeira entrada de ano no Rio. Parodiando seu slogan Amazônia, minha paixão – posso dizer: Rio, minha paixão!

Eu estava muito feliz e emocionada, visto que era a realização de um sonho. E você estava ali e tornava o momento mais empolgante com sua alegria. Celebrar o Novo ano a seu lado, sempre hilário e irreverente, tornou tudo mais fascinante!

Houve, então, o aniversário de 15 anos da Maria Carolina Assi Alencar, de cuja organização e de todos os preparativos você participou. Data especialmente marcante e realmente intimista, quando tivemos a oportunidade de conversar tranquilamente e estreitar um pouco mais minha simpatia por você.

15 anos

Depois, quando a Carol – mãe da Maria Carolina – me contou a comovente história do seu completo envolvimento com a organização da festa e seu carinho e comprometimento com todos os detalhes, meus olhos focalizaram você mais de perto e meu coração estimou-o ainda mais.

Em seguida, encontramo-nos outra vez e tive a oportunidade de parabenizá-lo novamente e reconhecer seu mérito não apenas como Party Designer – Criador de Festas – mas como amigo prestativo e sensível. E assim, seus créditos comigo continuavam a aumentar.

Alex Deneriaz, Maria Carolina e Carol Assi Alencar

Alex Deneriaz, Maria Carolina e Carol Assi Alencar

Minha Carolina

Chegou a vez de festejar os 15 anos de minha filha Carolina. Convidamos apenas dois colunistas sociais e você foi o único a comparecer, a curtir e a festejar conosco na maior simplicidade e descontração. Você embelezou a festa com elegância e porte de ator de cinema, além de se destacar pela ousadia exclusiva e inusitada.

Flávia, Franklin, Carolina Cavalcanti e Alex Deneriaz

Flávia, Franklin, Carolina Cavalcanti e Alex Deneriaz

Coluna Giro - Jornal A Crítica - 04/08/2014

Coluna Giro – Jornal A Crítica – 04/08/2014

Presença Marcante

Alex, você jamais passou despercebido a meus olhos atentos e observadores. Sua presença única e suas atitudes inconfundíveis fascinavam-me tanto quanto a sua simpatia e delicadeza.

Você se destacou pela Paixão pela Amazônia e pela vida, pela audácia e atitude. Pela determinação em ser você mesmo, em criar regras próprias para sua felicidade, em cativar uma quantidade significativa de amigos e admiradores.

Por onde passava, você deixava fluir sua Energia Cristal com naturalidade, emanava boas vibrações e contagiava as pessoas com seu alto astral. Chique, extravagante e requintado. Rodeado sempre pelas pessoas mais glamourosas da sociedade. Tudo isso sem ser esnobe com as outras tribos, porque sempre agregava e compartilhava uma maneira eclética e toda própria de ser.

Para mim, e para muita gente anônima, você representava em espécie de mito, uma personalidade emblemática.

Alex, sua partida precoce e repentina me mostrou que nem sempre somos capazes de perceber o valor de certas pessoas e o poder de influenciar nossa vida e atingir nosso coração. Foi preciso você adoecer para que eu compreendesse a verdadeira dimensão do sentimento que nos ligava.

Você era alguém marcante pela simples presença, pela maneira exótica de ser: eclético, cosmopolita e emblemático. Figura impactante, a você ou se amava ou odiava e quem não o odiava já estava amando… Você não era um ser de meio termo – significava convulsão e plenitude. Despertava qualquer sensação, mas jamais passava despercebido.

Você foi como um filme regional, uma Paixão Amazônica. Paixão é fogo, exagero, intensidade. Você era exatamente isso: euforia e arrebatamento.

Por trás daquela altura imponente, daquele personagem com um quê de celebridade, pulsava o coração de um simples ser humano, assim como cada um de nós, seus fãs e amigos.

CELEBRAR, este era o seu verbo! Sua presença sempre foi um ESPETÁCULO à parte, porque seduzia pela extravagância e espontaneidade, conquistava pela ternura e pelo perfil fora do comum.

Foto: Silvia Castro

Alex Deneriaz – Foto: Silvia Castro

Energia Cristal

Você parte e deixa uma lição sobre a arte de captar o que cada ser humano tem de melhor. Como você mesmo dizia, neutralizar – deixar passar, esquecer – os defeitos e aceitar o outro como ele é. Até porque, erros e falhas, todos nós temos de sobra.

A Energia Cristal é luz subjetiva, é o que cada um consegue transmitir de melhor. Precisamos exercitar o poder de captá-la e usufruir dela da melhor maneira. É uma conduta implícita, uma comunicação muitas vezes sem palavras; é pensamento, energia e pulsação. Não é a aparência, não são as palavras, é o olhar, são os gestos, é o comportamento e, principalmente, é aquela EMPATIA que não se vê, apenas percebemos e sentimos.

É incrível como você, Alex Deneriaz, realmente era um ícone, que abrilhantava qualquer ambiente e a tudo enchia de alegria. Viveu intensamente, partiu no auge e será sempre lembrado em grande estilo. Nunca fomos muito próximos, mas agora percebo quanto seu carisma me cativou.

Acredito que as homenagens devam ser em vida, mas foi preciso você partir para eu entender quanto lhe queria bem. Agora é tarde? Acredito que não! Ao contrário, a força do pensamento e da sintonia intensifica-se quando alguém segue para um lugar mais pleno e feliz.

O ensinamento que fica para mim é que devemos ser observadores mais atentos do que se passa a nosso redor e, sobretudo, saber sentir e identificar a presença do outro com o que há de mais significativo em suas vibrações.

Alex: você deixa a marca de uma pessoa INSUPERÁVEL, que ocupou um lugar de DESTAQUE na sociedade amazonense e no CORAÇÃO de muita gente. Você realmente é o que Fernando Pessoa descreve: Alguém inesquecível, inexplicável e incomparável.

* Rebelde – Uma espécie de confraria de rapazes arrojados, os mais badalados da geração final dos anos 80 e início dos anos 90.

Glossário de Alex Deneriaz – Expressões Pitorescas – [Colaboração: Eliane Gurgel]

Alô, alô – Dizia quando chegava a algum lugar – era o seu “oi”.
Tarja – Doido(a), Maluco(a)
Processo – ele usava esta expressão para falar de alguém que ele cuidava, tipo: Essa menina é meu processo… (cuido dessa menina).
Neutraliza – Esquece, pula essa parte
Não frequento – não vou, não conheço
E quem seria? – Quem é?
Quaquaquá – sem graça, nada a ver… Tipo: Essa festa é quaquaquá
Te dedico – ele adorava usar essa expressão quando mandava foto para as amigas
Sistema Fui – quando ele sumia de repente e aparecia em Nova Iorque, por exemplo. Dizia que estava no Sistema Fui
Energia Cristal – Ele era pura Energia Cristal
Sem truque – Sem falsidade, sem mentira

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Agradecimentos: Silvia Castro Fotógrafa e Eliane Gurgel