De Volta à Liberdade de Menina
05 janeiro, 2013Flávia FrotaDe Volta à Liberdade de Menina
Este título é contraditório porque tudo que uma menina quer na vida é conquistar a tão sonhada liberdade. Aí venho eu, uma mulher feita, escrever sobre isso, não seria um absurdo?
Seria sim, diante dos meus 12 anos, uma completa insensatez. Mas hoje, na minha realidade adulta descobri que existem vários tipos de liberdade. E mesmo sendo dependentes, vigiados e tendo que dar satisfação aos pais, crianças e jovens também têm sua maneira de ser livres, provavelmente pássaros muito mais soltos do que imaginam…
Esses dias em Manaus tem feito um clima maravilhoso, temperatura agradável e muita chuva. Facilitando assim o ato de contemplar a natureza, seus fenômenos, belezas e mistérios.
Favorecendo tudo isso estão as férias escolares, a cidade e a vida mais tranquilas e o calor escaldante nosso de cada dia vem dando uma ligeira trégua. Às vezes parece vida de interior, o tempo passando mais devagar, o coração leve…
Uma Rua Como Aquela
Então crianças de apartamento resolvem passear de bicicleta na rua. – Mas como? Hoje em dia isso é muito perigoso, explica a mãe. Eu vou junto! E lá vou eu começar a melhor parte da história…
Vocês, leitoras e leitores, já leram Uma Rua Como Aquela, de Lucília Junqueira de Almeida Prado? É literatura infantojuvenil, eu já li e vou contar. Não, não vou contar o livro, apenas falar das experiências que vivi.
Aos 12 anos, quando tudo é encantado, a professora Célia, de Língua Portuguesa, recomendou a leitura dessa obra. Estávamos na 6ª série [atual 7º ano do Ensino Fundamental]. Minha amiga Lúcia, recém chegada de Brasília para estudar conosco em Manaus, já tinha lido e contou que havia gostado demais.
Além dela ter vindo estudar no meu colégio, veio também ser minha vizinha, chegou para fazer parte da nossa versão de Uma Rua Como Aquela. Lúcia morou apenas um ano em Manaus, mas o tempo suficiente para nos tornarmos inesquecíveis uma para outra.
A nossa Rua Como Aquela era – e ainda é – um conjunto residencial de 51 casas, com apenas uma alameda sem saída, e tem em seu nome a palavra Vila. Passei a infância e a adolescência ali, cresci rodeada de uma porção de amigos, tivemos uma meninice de rua, brincando e fazendo travessuras em grupo.
Lúcia foi embora de Manaus no final daquele mesmo ano, mas continuamos nos comunicando por cartas durante muitos tempo. Depois perdemos o contato e mais tarde, há uns 5 anos, nos reencontramos através de uma rede social. Poucos meses depois estaríamos juntas em Brasília, apresentando nossos maridos e filhinhos.
De lá pra cá ainda não tivemos oportunidade de nos rever pessoalmente, mas o coração e as palavras continuam cultivando nossa eterna amizade. Eu sou a porta-voz de Manaus, da Vila e dos amigos para ela.
Então, ontem, enquanto vivia o meu momento de volta à liberdade, passeando alegremente de bicicleta pela rua, subindo e descendo ladeiras, tendo o rosto acalentado pelo vento, observando as mesmas árvores que presenciaram nosso crescimento e cicatrizes no joelho, lembrei muito dos antigos vizinhos, em especial dela, Lúcia.
Passamos a tarde juntas, digo, conectadas, nos comunicando por mensagens de celular. Eu tirava fotos e mandava para ela com legendas: Aqui era a tua casa, aqui era a casa do Onça, esta é a pracinha da frente, olha o parquinho, como está lindo!
O lugar é muito verde, bonito e agradável. E enquanto pedalava, reencontrava antigos vizinhos e revivia bons momentos, pude sentir toda a liberdade que uma garota é capaz de ter… Refiz laços, estive em contato com uma grande amiga, comovi-me e emocionei a ela também.
Descendo a ladeira, lá no final da rua, há um bosque, tranquilo e bonito. Ali era um dos nossos melhores pontos de encontro, conversas e brincadeiras. E ao descer essa ladeira, eis que lembrei de outro livro:
A Ladeira da Saudade
Este, creio que li no ano seguinte, 7ª série [8º ano do Ensino Médio] foi a professora Ana Maria Fernandes quem solicitou. Enredo romântico envolvendo dois adolescentes, Dirceu e Marília, tendo como cenário as ladeiras de Ouro Preto.
Então pensei: como o destino é generoso, passaram-se algumas décadas e hoje estou eu aqui a trilhar os mesmos caminhos das primeiras fases da vida…
E esse lindo encontro só foi possível graças às crianças afoitas por passear livremente de bicicleta, e às minhas tias queridas, que hoje vivem na mesma casa onde morei.
É sorte, é mágica! A felicidade se manifesta de diversas formas, é só saber perceber e aproveitar!
P.S.: Em 2012 me deu uma vontade enorme de reler as duas obras aqui citadas. Como não tinha mais meus antigos exemplares, comprei e reli. Confesso que adorei refazer essa viagem no tempo… Como ontem, também foi encantador!
.
Você também vai gostar de ler:
Aguardo você nas redes sociais. Curta, comente e compartilhe sem moderação. Obrigada!
Facebook: Flávia Frota
Instagram: FlaviaFrotaC
Twitter: FlaviaFrotaC
YouTube: Flávia Frota – Se inscreva no canal!
www.FlaviaFrota.com
Seus textos trazem histórias de outros tempos. Tempos esses em que me vejo, como nesse texto belíssimo que vc escreveu. Bjos
Glaucilene
Eu tive um pouco, mas em Brasília, qdo ia de ferias em dezembro e só voltava em março , qdo começavam as aulas…delicia brincar de guerra de barro, roubar bicicletas e pedalar até o Final da 216… De brincar de bola, no parquinho…
Bernadete
Vida longa ao Blog Atividade Pensante, que é um presente a cada post que temos o prazer de ler.
Daisy
Blog Atividade PULSANTE!!!
Francisca
Oi, Flávia! Visitei o blog e adorei seu texto sobre recordações da infância e recordação dos livros…
Bjs
Eline
Queridas leitoras, realmente só a felicidade é capaz de produzir boas recordações como essas que nós temos…
Agradeço a leitura e os comentários de vocês. Beijos para cada uma
Como dissestes “De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar”. Abrahim Baze
Olá amiga blogueira Flávia,boa tarde.
Sem querer arvorar-me a critino, afirmo que sinto-me extremamente orgulhoso do trabalho. Como já lhe falei em outro momento, estou a espera da sua puplicação,ela será bem-vinda.
Você consegue ter autenticidade na expressão do sublime ato de escrever. Nesse apostolado de eleitos cabe a você, ser o portal mágico permitindo deslizar mansamente todos os seus sonhos com a tua verdade e com muito sentimento de que estás no caminho promissor.
Você consegue ao escrever, vivenciar as cores na fascinação do belo. Escrever e publicar é ter coragem de assumir a verdade das palavras.
Boa sorte e fique em paz.
Abrahim Baze
—
Muito obrigada pelas palavras de incentivo, Abrahim Baze!
Flávia,já li alguns artigos de seu blog .Neles você ressalta toda a sua sensibilidade humana e poeta. Adorei!
Mirtes
Obrigada, Mirtes!
São palavras como as suas que nos motivam na caminhada…
Beijos
Deus a abençoe e te dê uma mente sempre iluminada e sábia. Bjos.
Lucy
Se um dia sentássemos eu, você e minha filha teríamos conversa pra quilometros…..kkkkk. Adoramos leitura. Parabéns pelo blog.
Monica
Muito legal Flávia… essas lembranças da Vila da Barra e dos amigos de 1982, das festas nas varandas, dos jogos de volley na pracinha, das paqueras platônicas, etc… são de todos nós. Mostrei para minha mãe e até ela viajou com você na emoção de relembrar tudo isso…e te mandou um beijo… bjs, Gui
Guilherme, Lúcia e Luciana, tenham certeza que de todos os anos de Vila da Barra, o melhor foi mesmo 1982, o único que vocês passaram lá. Foi apenas um, mas suficientemente intenso para tornar-se inesquecível…
Adoro vocês, amigos!
Grande beijo (para dona Lourdinha também!)
Oi Flávia, me emocionei muito com o seu texto, obrigada por esse momento, saudade doida…
Luciana
Eu é que agradeço sua leitura e emoção, Luciana! Beijos e saudades… 🙂
Flavia, lá em casa só tinha adulto, e por isso aprendi cedo a escrever, a ler, e a encher o saco deles. Ai achei em 1991 (eu tinha 9 anos) um livro chamado Greve na Escola, que minha irmã Milena havia lido na oitava série para uma prova de literatura. É meu clássico. Também adorei a Ladeira, a Marca de uma Lágrima, e todos esses outros clássicos, mas Greve na Escola me lembra o prazer de ler pela primeira vez algo achado na biblioteca, escolhido pela capa, e que depois de aberto virou meu mundo paralelo…
beijossssss
Oi, Mariana! Adorei seu comentário com dica de leitura para nossos leitores adolescentes, e confesso que já fiquei curiosa para ler Greve na Escola. Pelo nome, imagino que deve ser bom mesmo!
Obrigada e um forte abraço para você!
Texto lindíssimo, me emocionei muito, porque você escreve com o coração e nos faz realmente pensar passado, presente e futuro, fazendo ainda relembrar um passado cheio de saudades!
Beijos,
Helen
Encantamento! É exatamente esta a proposta do blog, encantar-se com e pela leitura.
Ah, se o tempo pudesse voltar! Ainda bem que fica tudo armazenado na memória. Muito lindo!
Márcia
Olha aqui, Flávia, sabe por que eu leio suas crônicas a conta gotas? Porque morro de chorar com tanta beleza! Bjs
Escreva logo seu livro para podermos, ler e reler, nos emocionar. Vc nos ensina a recordar, e recordar é viver…
Lara, você é uma grande incentivadora do meu “escrever”, principalmente porque me espelho nos seus poemas naturais, vibrantes e pulsantes!
Muito obrigada, sempre!
Beijão