O Ritmo da Vida

10 novembro, 2011Flávia Frota

 

Sempre gostei e dei valor ao passado, às pessoas de idade, sua sabedoria acumulada e maneira de viver sem pressa. Sem pressa, meu pai repete constantemente que o homem tem que andar com calma para conseguir ver as oportunidades. Segundo ele, quem vive apressado, corre o risco de esbarrar em um saco de dinheiro e passar direto, porque não tem tempo para enxergar. Esta lição está consolidada em minha mente, e o simbólico “saco de dinheiro” tem um significado profundo e subjetivo.

Semana passada, encontrei um parente distante, senhor com quem nunca tive muito contato e há tempos não via. Parei para cumprimentá-lo e percebi que um problema de saúde o havia deixado com dificuldade na fala. Ele tentava conversar, mas apesar do esforço, só conseguia balbuciar poucas palavras.
Apesar disso, conseguimos nos comunicar bem, em um diálogo onde os sentidos e a expressão corporal transmitiram a mensagem de emoção, gentileza e um certo encantamento. Enquanto eu falava pausadamente, para me fazer entender, ele parecia estar extremamente feliz com aquele encontro inesperado.

Senti-me bem com isso, compreendi que na verdade quem estava sendo beneficiada era eu, e naqueles poucos minutos, pude exercitar a generosidade e a fraternidade, doando um pouquinho de tempo, atenção e cortesia.

Como na vida tudo que se faz, se recebe de volta, eu saí dali reconfortada, feliz, com a sensação de ter ganhado o dia. Ele não fez grande coisa por mim, nem eu por ele, mas devido à empatia e o carisma algo muito bom pairou naquele momento e cheguei a sentir a presença de nossos antepassados dividindo conosco lembranças e experiências.

A vida é assim mesmo, a felicidade está nas pequenas coisas, nos gestos descompromissados e gentis. Eu poderia ter passado direto e perdido a oportunidade de fazer feliz e ser alegrada também. Minha sorte foi a sensibilidade que insiste em fazer parte da minha alma. Sensibilidade que inspirou a crônica de hoje, e me faz refletir: devagar se vai ao longe…