Professora Ylsa Honório
25 maio, 2012Flávia FrotaProfessora Ylsa Honório
Conheci a Escola Normal Superior da Universidade Estadual do Amazonas – UEA – semana passada e deparei com uma surpresa que aqueceu meu coração: uma sala intitulada professora Ylsa Honório.
Tomada de emoção e alegria imediatamente tive a ideia de fotografar a bonita homenagem para compartilhar com você, querida leitora e amigo leitor. Para minha tristeza – e por falta de habilidade fotográfica – não consegui ajustar o flash da máquina, e por ser noite, a luz interferiu atrapalhando a imagem.
Sem problema. Como tempo é questão de prioridade, motivos não faltariam para voltar lá. O lugar tem aparência agradável, área verde, arquitetura moderna e acolhedora, sem falar no clima de academia, conhecimento e juventude.
Então retornei em uma manhã de sol, a atmosfera de encantamento ficou ainda maior, saí passeando e fotografando várias salas de aula com nomes de mestres ilustres, que posteriormente serão citados também aqui neste blog.
Ao rever a placa em homenagem à dona Ylsa fui tomada por uma sensação de deslumbramento que rápido me transportou ao meu primeiro dia de aula. Eu devia ter entre cinco ou seis anos e nunca havia estudado antes, por isso, na bolsa – não era mochila – carregava muito mais que livro, caderno, lápis e borracha. Levava a ansiedade de principiante aliada à curiosidade e à inocência infantil.
A casa da professora Ylsa Honório era emblemática: branca, linda, limpa e florida. Para mim, mais parecia um palácio: templo do saber, dos bons costumes e boas maneiras. E por coincidência a localização também era majestosa, próxima ao – também palácio – Palácio Rio Negro – sede do Governo do Estado à época. A residência da professora também era vizinha à ponte da avenida Sete de Setembro. Tudo isso em um tempo de paisagem bonita e bem cuidada.
No quintal da casa ficavam as salas de aula. Era um espaço aberto e coberto. As salas eram separadas por séries. A respeitada e temida dona Ylsa só dava aula para os alunos maiores – no caso meus irmãos Gerson e Márcia. Eu, sendo ainda pequenina, sentia-me aliviada por estar “livre”. Não porque temesse a palmatória – acho que a essa altura não era mais usada – mas por receio da exigência da famosa mestra. Para meu alívio, fui recebida na salinha de alfabetização pela doce Nadir, minha primeira professora.
Em pouco tempo parti para a vida escolar no colégio, antes de chegar às mãos da folclórica dona Ylsa. Confesso que me sinto meio órfã dela, na verdade gostaria de ter passado por essa provação e principalmente ter o nome da grande mestra em meu currículo. Mas como meus irmãos estudaram com ela por muitos anos, sinto-me também ex-aluna, digamos que por afetividade.
Não lembro se havia bebedouro próximo às salas de aula, nós gostávamos mesmo era de beber água na cozinha da casa, onde formávamos fila e uma senhora muito simpática e bonachona nos recebia alegremente e servia um copo d’água bem geladinho.
Na aula da dona Ylsa – não lembro de chamarmos colégio ou escola , era apenas aula particular – não havia cantina. Levávamos merendeira, as primeiras nem eram térmicas. Depois elas se modernizaram, passando a chamarem-se lancheiras e a contar com garrafas que conservam a temperatura.
A merenda era pão com picadinho, pão com ovo ou bolo. Tudo feito em casa. Não recordo de biscoitos nem grande variedade de produtos industrializados, mas refrigerantes nós consumíamos sem culpa. Consigo sentir perfeitamente o cheiro do pão enroladinho no papel de merenda – entenda-se por papel de merenda o atual guardanapo de papel, não havia plástico filme, papel alumínio, nem o hábito de usar as atuais vasilhinhas plásticas.
Dona Ylsa era uma professora séria e rigorosa, fazia-se respeitar e não dava moleza aos alunos. Fez parte de um tempo em que os estudantes eram mais cobrados, a educação era mais rígida, eficiente e apresentava melhores resultados.
Gosto de lembrar que na minha infância havia tempo para estudar mas também tínhamos o direito de ser criança sem pressa… Brincar a vontade sem agendas lotadas e nem um exagero de atividades extraclasse. Engraçado é que éramos felizes, os professores respeitados e os resultados da aprendizagem muito mais satisfatórios – tanto no desenvolvimento intelectual quanto moral e social.
Atualmente avançamos bastante no relacionamento de carinho e afetividade entre professores e alunos. Os estudantes têm sua individualidade, talentos e potenciais mais considerados e incentivados. A palmatória já saiu de cena, e agora, em nome da educação liberta, temos que nos livrar do excesso de liberdade que aprisiona.
Não defendo a ideia de que o passado fosse melhor que o presente, mas em matéria de educação temos que resgatar urgentemente muitos exemplos bem sucedidos de tempos atrás. E a professora Ylsa Honório é um modelo a ser considerado, com P maiúsculo de Professora, nada de tia!
Poema
Embalada neste espírito saudosista que nos remete a doces lembranças da infância, acordei inspirada e escrevi o que talvez possamos chamar de poema. O importante é o amor, carinho e emoção que dedico com palavras à Amada Mestra. Professora Ylsa Honório, o Amazonas agradece e honra seu nome e seu trabalho!
Dona Ylsa
Uma mulher
Uma causa
Uma vida
Dedicada à educação.
Trabalho que fica, modifica,
Transforma e melhora
As pessoas, a sociedade e o mundo.
Seu legado não tem preço
Só tem começo
Não tem fim…
Sua vocação e dedicação
Eternizaram sua obra
Na figura de cada aluno:
Um ser transformado, melhorado
Um agente de mudanças
Dos ideais de uma mestra
Que fez com a educação
Uma linda aliança!
P.S.: O nome da professora Ylsa é grafado com a letra Y.
Querida leitora e leitor amigo, tudo que escrevi aqui é fruto das minhas recordações, portanto, sujeito a lapsos de memória.
Manaus, 25 de maio de 2012.
Se pudesse dar um conselho para os professores diria: procurem se realizar e estudar ainda mais.
Eu gosto muito de ensinar, fiz isso minha vida inteira. Comecei aos dez anos de idade na escola da minha irmã. Até hoje ajudo meus bisnetos com os deveres da escola e vou morrer ensinando. Isso é a minha vida.
Professora Ylsa Honório
Nascida em 11/11/1918
Faleceu em 1/12/2017, aos 99 anos
Aguardo você nas redes sociais. Curta, comente e compartilhe sem moderação. Obrigada!
Facebook: Flávia Frota
Instagram: FlaviaFrotaC
Twitter: FlaviaFrotaC
YouTube: Flávia Frota
www.FlaviaFrota.com
Crônica perfeita, Flavinha! Como postei um dia no facebook e você comentou: “O magistério compensa”. Eu concordo que a docência compensa quando o professor consegue transmitir o conhecimento e junto significá-lo para a vida toda. Lembranças temos dos professores que marcaram nossas aprendizagens com respeito, dedicação, conhecimento, que impos limites sim, mas tiveram a consciência de marcar a vida escolar positivamente.Esses levamos para a vida toda.
Como educadora vejo que atualmente consideramos importante o avanço dos conhecimentos por parte dos professores com os planejamentos, a metodologia utilizada, dentre outros aspectos fundamentais para o processo ensino/aprendizagem.
Não consideramos que a abordagem tradicional ou a interacionista seja mais eficaz ou não. Como costumamos dizer: “Não precisamos jogar nem o bebê e nem a água fora! Mas renovar e adaptar o ciclo da água e acompanhar o desenvolvimento do bebê”.
A palmatória não é mais utilizada, mas muito precisamos trabalhar para que a criança seja respeitada nos dias de hoje. Ela precisa ser ter cada vez mais espaço para falar, ser ouvida e compreendida. Os limites devem ser abordados e com o objetivo de ensinar e não punir ou desmerecer, todos como você disse têm potencialidades, só precisam ser desenvolvidas…..O mesmo espaço é buscado para o professor dialogar com a equipe pedagógica.
A educação luta para ser libertadora como já disse Paulo Freire.
Flávia, tuas palavras me emocionaram. Muito obrigada pela homenagem à minha querida avó. Vou mostrar a ela e tenho certeza que ela também se emocionará. Bjs.
Lucíola Valois
Flávia,
Adorei o texto e o poema em homenagem à famosa professora Ylsa.
Vários de nós estudamos lá e, com certeza, temos muitas lembranças daquela época, velhos tempos… belos dias. Beijo.
Gizah
Puxa, Flávia…
Q crônica linda!
Gd bj ^-^
Sheila
A UEA está de parabéns pelas homenagens aos professores. Mas francamente, se uma Escola Normal Superior que escreve errado o nome da homenageada, imagina como uma “Escola Anormal Inferior” grafa os simples vocábulos da língua portuguesa??? Errar é humano, mas convenhamos, meus pêsames!!!
Ana Maria
Flávia, ontem eu li a crônica pra vovó. Ela lembrou dos teus irmãos e ficou muito feliz com a homenagem. Sou, então, ainda mais grata a ti por ter trazido um sorriso no rosto de minha avó. Muito obrigada. Um beijo,
Lucíola Valois
Olá AMIGA, adoro ler suas crônicas.
Em especial, esta última, também me fez voltar aos tempos de
alfabetizaçao, onde , na hora do “recreio”, minha querida irmãzinha,
levava pão – doce com manteida e café com leite, pois além de ser bem
próximo de nossa casa, só estava lá por muita insistência, já que ainda
não estava na idade de me alfabetizar….
Pena que hoje em dia as principais instituições estão falidas, as crianças não têm a Escola,nem a Polícia, nem a Igreja como referência.
A um tempinho atrás, nossos pais nos ensinavam a valorizar as pessoas que representavam essas instituições e nós sonhávamos em ser professoras , freiras, policiais, etc.
A modernidade é maravilhosa, hoje em dia existem muito mais
opções de emprego, mas, a simplicidade ficou lá atrás, junto com a
humildade, respeito ao próximo, boa vontade, gentileza… qual
criança , em nossos dias tem essas atitudes?
Damos muito mais que tivemos e recebemos quase nada. Repare, ao andar no shopping, na rua, em saída de escolas, infelizmente são raras as
crianças = crianças.
Marilia
Coisa bonita é usar de nossas lembranças para construir um texto assim: convidativo, reflexivo e crítico!
Parabéns, Flávia! Um beijo.
Poema construído
por uma lembrança
gravada numa placa
de bronze
virou versos de uma saudade
o coração dá um jeito de ser
belos
e no fim
o que vale é o poema
poema mui belo
nem tanto nas metáforas
mais rico na emoção
Luiz Alfredo – poeta
Flavinha..
Volteu no tempo..tinha 5 anos e já sabia ler…tive o privilégio e ser aluna dela. meus irmãos foram alunos da Nadir e da Raimundinha, mas eu só estudei com D. Ylsa. talvez porque eu estivesse com dificuldades em ser aceita nos colégios, porque já era alfabetizada, e tinha pouca idade..Ela tomou meu caso pra si, e assim cresci sob a sua orientação e ‘proteção’. mas eu lembro que era uma sala onde todos eram mais ou menos “adiantados”. talvez ela, à frente de seu tempo, já cuidasse desses alunos “diferentes”.. e não eram poucos..lembro das sabatinas de verbo e tabuada (que eu, orgulhosa, não me admitia errar nada – nem tinha medo da palmatória). Ela foi fundamental no meu processo de aprendizado..Firme, mas justa. lembro do perfume dela..lembro da doçura do Sr. Lauro, cuidando tão bem daquele jardim. da Jovelina, a cozinheira, que nos servia água…lamento muito meus filhos não terem passado por essa experiencia com ela. Porque tive que intervir muito com professores que eu considerava ‘moles”..Ela era exigente, e isso fez com todos os seus alunos acabassem se tornando “excelentes alunos”, e bem preparados. A educação doméstica, quando faltava em algum aluno…ela ensinava com uma palavra firme..e bastava. Tenho um carinho e admiração imensos por ela. Minha base.
Sua homenagem me trouxe doces lembranças..daquela menina que eu era, amedrontada por ter que “ser rebaixada” por causa da minha pouca idade, mas depois, absolutamente confiante, pelas palavras firmes, seguras e incentivadoras de D. Ylsa. Minha gratidão para ela não tem fim.
e a você..que valorizou mais um pouco a estória dela…
Beijos no coração, querida Flavinha.
Emocionante a sua história com a Dona Ylsa! E que memória, Dedê! Fiquei feliz de você ter me lembrado o nome da Jovelina – a cozinheira bonachona que nos servia água. Lembranças impregnadas de sentimentalidade, saber, aprendizado… Dona Ylsa é como os grandes mestres: perene, eterna…
Grande beijo, amiga 🌹💋
Who hasn’t had private classes , tutoring? At that time it was very common.
Who doesn’t remember those teachers who marked our lives?? Demanding teachers that used forms of corrections ” Palmatórias “, but they were also caring and just.!!!!
D. Ylse was well respected and a great professor who always got the most out of her students.
Beautiful poem too.
Carmen
Gostei muito do que li você escreve muito bem e me senti como se ainda estivesse vivendo naquela época . Conheci a casa muito bem cuidada tal qual como você descreve. Dois dos meus filhos estudaram lá na chamada aula particular conheço e lembro da disciplina rígida que era aplicada aos alunos. Concordo plenamente em resgatar muitos exemplos bem sucedidos de tempo atras. Mas por favor palmatória não …Nossa querida e amada mãezinha aplicava também essa técnica e eu meus irmãos tínhamos muito medo e lembro perfeitamente o nome que demos a nossa palmatória que era um segredo só nosso . Chamamos de Fidel Castro que tal ? Nos ainda crianças fazer essa comparação… Porém uma coisa é certa havia mais disciplina mais respeito entre alunos e professores. Hoje os valores praticamente se perderam toda. Agradeço a atenção dispensada. Um grande e afetuoso abraço.
Therezinha Brito [via Wpp]
Lindo e emblemático o exemplo de dona Ylsa. Flávia sempre a culpada por fazer rolar uma lágrima por um tempo que não volta mais!!!!!
Belíssima poema em homenagem a esta grande professora! Há professores que marcam a nossa vida, que abrem nossos olhos e transformam a nossa maneira de aprender.
Sua missão foi muito além da missão de uma professora. Dona Ylsa soube despertar a nossa admiração de um modo único, e se tornou uma inspiração para nós.
Nós só podemos agradecer por ter feito parte das nossas vidas, e tenha certeza de que tudo o que aprendemos, vamos levar por toda a nossa vida.
Linda homenagem !!