Rosa – Heliana Vieira

24 outubro, 2019Flávia Frota

Heliana Mara Zau Vieira Rosa

Heliana, uma pessoa marcante sem necessariamente estar sempre presente, alguém com algo incomum para nunca ser esquecida.

Uma cumplicidade estranha de explicar. Alguém que entra e sai da sua vida em fases pontuais e em cada um desses períodos deixa marcas fortes.

Heliana, amiga, nós nunca fomos melhores amigas, mas você conquistou MORADA em meu coração, desde o início.

Faculdade

Era meu primeiro ano de faculdade. Comunicação Social. Sempre entrava na sala uma menina do mesmo curso, sendo um ano mais adiantada. O nome completo eu logo decorei, nem sei como ou por quê: Heliana Mara Zau Vieira [ainda não era ROSA].

Você se destacava principalmente pela simpatia na arte de comunicar. Chegava para oferecer ingressos das festas que promovia, mas que eu nunca fui.

Sacoleiras

Depois você começou a vender roupas junto com a nossa colega Sheyla, também da Ufam. Eu adorava aquelas blusinhas de malha e barriga de fora, lembra? Eram lindas mesmo!

Acho que foi quando venceu meu tempo de estágio na LBA, fiquei sem trabalho e fui lhe procurar para ser sua sacoleira. Coloquei seus produtos na bolsa e saí por aí vendendo.

Foi uma fase tão boa! Quando eu comprava e depois quando já vendia, ia para a sua casa escolher as peças, a gente conversava e ria bastante. Arrancar sorrisos era uma das suas especialidades.

Recofarma

Tempos depois você foi estagiar na empresa em que eu já estagiava. Aí nós nos aproximamos mais. A afinidade se estabeleceu. Eu era tímida, retraída, silenciada. Você era falante, extremamente engraçada e transformava tudo em alegria – principalmente as tristezas.

Você me tornava leve, me soltava, trazia à tona a minha essência que também tem fortes traços falantes e brincalhões.

Éramos duas meninas ingressando no mundo do trabalho. Garotas de sorte, estávamos na Recofarma, melhor empresa para se trabalhar em Manaus. Literalmente era aquela Coca-Cola toda! E o relacionamento entre os colegas era um desses diferenciais.

Nessa fase, nossos medos e sonhos eram semelhantes. Enfrentávamos as mesmas crises existenciais e desafios. Éramos as caçulinhas da empresa.

Houve uma época em que chegamos a nos estranhar feio. Graças à habilidade pacificadora da nossa chefe Luiza Soares – que no colocou para conversar a sós – ao invés de nos distanciarmos, estreitamos ainda mais os nossos laços. Obrigada, Luiza! Sem a sua intervenção acertada e sempre cheia de ternura, talvez a amizade tivesse acabado ali.

LAÇOS esses que mais tarde fariam parte de nosso futuro mundo cor de ROSA em comum. A partir daí eu guardaria você no meu coração para sempre.

Frigidaire

E por falar em ROSA, vi nascer seu romance com o Fernando ROSA. Acompanhei cada degrau daquela paixão. O entusiasmo, o olhar brilhante e um novo vocabulário que chegava com o gaúcho da sua vida, o Frigidaire, apelido que se consolidou como Frigi. [No Rio Grande do Sul ele não usava a palavra geladeira, usava a denominação Frigidaire]. Você, no auge da paixão, achou isso tão lindo que o apelido carinhoso ficou para a vida toda.

Se a memória me permite, parece que vocês se conheceram dançando lambada. No Kalamazon? Não lembro ao certo. Mas tenho certeza que entre as inúmeras qualidades dele que você revelou, se destacava a de ser um excelente dançarino. Logo em seguida à noite em que se conhecem e dançaram juntos, você chegou contando tudo, nos mínimos detalhes. Estava na cara, ali nascia um grande amor!

Mãe e Filha

Foi mais ou menos nessa época que me encantei com uma história entre MÃE e FILHA, que trago até hoje e conto sempre para as minhas MENINAS. Você estava ocultando algum segredo para a sua mãe, era relacionado ao seu namoro. Algo sobre os finais de semana em que a irmã do Fernando viajava. Lembro de tudo, você falava empolgada sobre o relacionamento de vocês. De repente me disse: Contei tudo para a minha mãe. Eu não sei mentir para ela.

Aquilo foi uma aula para mim. Um aprendizado sobre a MÃE que eu gostaria de ser, e sobre como eu queria aprender a criar os filhos que Deus me confiasse.

Fiquei apreensiva, pensando no castigo horroroso que a Dona Iracema iria lhe dar. Mas que nada! Ela era mais que mãe, era amiga. Valorizou a sinceridade da filha e, do jeito dela, compreendeu a importância do romance que você estava vivendo.

Morada

Troquei de emprego. Fui morar sozinha. Você foi me visitar, conhecer o apartamento onde eu estava me arriscando a viver só. Falou que você e Fernando planejavam casar e já tinham até comprado umas coisinhas para casa. Contei que estava sendo uma delícia morar sozinha, informação que já lhe servia de estímulo para também arriscar uma nova vida, ao lado do seu amor.

Anos depois viríamos a ser um pouco vizinhas nos arredores do conjunto Morada do Sol.

Sala de Espera

E foi eu um momento delicado e doloroso da minha vida que eu lhe reencontrei, na sala de espera de um médico mastologista. Minha primeira filha tinha apenas quatro meses. Eu estava com um sério problema em uma mama devido à amamentação.

Já era quase 18 horas. Eu estava aguardando desde às 14 horas. Minha filha havia ficado em casa com o Franklin. Eu precisava voltar para dar banho nela, mas nem sinal de ser atendida. Além do problema de saúde, o que mais doía era a Carolina em casa sem o banhinho e o passeio da tarde. Naquele momento você foi um anjo enviado para me ouvir e acalmar.

Angústias da maternidade, nem imaginávamos que no futuro iríamos vivenciar isso juntas. Você me contou que estava casada há uns cinco anos, se não me engano, continuava muito feliz com o Fernando, mas que não conseguiam ter filhos. Fiquei com o coração partido.

Pinocchio

Depois dali, nosso encontro mais marcante foi em grande estilo. Creio que era final de 2007, fui renovar a matrícula da Luciana no Pinocchio e encontrei você matriculando a Gabriela ROSA. Acredito que você contou estar no início da segunda gravidez.

Nossa! Fiquei muito feliz ao te ver mãe, minha amiga! E logo mãe de duas!!! Em breve saberíamos que o bebê da barriga era mais uma menina, a Isabela ROSA.

Passamos a trocar mil dicas e informações sobre maternidade. Agora eu assumia ares de professora na arte de maternar. Eu já tinha duas meninas de sete e três anos, estava um pouco à sua frente no quesito experiência.

Acompanhei a adaptação da Gabriela na escola, a evolução da sua gravidez, a escolha do nome… As angústias, prazeres e medos.

Filhas, Filhas, Filhas…

Logo em seguida ao nascimento da Isabela, a notícia da terceira gravidez. Você estava em choque, receosa, com medo de não dar conta de três crianças. Tudo tão rápido, idades tão próximas, mãe no atacado, como gostávamos de brincar.

E eu dizia, olha aí o milagre! E brincava: Ainda vem que você não podia ter filhos, imagina se pudesse, teria logo 10, um atrás do outro. E celebrávamos as bençãos de Deus em sua vida.

Deu tudo certo, a Manuela nasceu, e você tirou tudo de letra. Muitas vezes foi à loucura, é bem verdade! Mas sempre com amor e alegria para rir das loucuras da bela missão de ser mãe das Meninas ROSAS.

Ainda lembro das suas gracinhas sobre o ritual de dar banho, ao mesmo tempo, em três meninas, você apelidou a sessão de lava jato!

Poucos dias antes da sua partida eu contei o caso do seu milagre para algumas colegas. Também lembrei da Gabriela e dos uniformes da escola, era nosso assunto de final de ano. Mesmo sem saber que você estava doente, acredito que foi sintonia entre nós…

Mães de Meninas

Neste período fomos mães juntas. Compartilhando o cotidiano de laços e vestidos, os mil e um detalhes que levam as mães do desespero à euforia em questão de segundos.

Tínhamos um mundo cor de ROSA em comum. Maridos parceiros e pais dedicados. Éramos mães deslumbradas, daquelas que se recusam a terceirizar funções. Curtimos juntas as nossas meninas, trocamos dicas de médicos, remédios, métodos educativas e todo tipo de assunto da pauta materna.

Surtamos e nos acalmamos juntas por inúmeras vezes. Vivemos nossa maternidade no sentido mais amplo da palavra. E foi incrivelmente gratificante.

Alguns dias almoçávamos com nossas meninas no restaurante D’Licianas. A Luciana chamava a Gabriela ROSA de Gabriela Róseo. Na brincadeira eu falava para ela que eram as meninas arco-íris: Gabriela ROSA, Isabela Amarela e Manuela Lilás. Aqui em casa essa família florida sempre foi uma festa!

Cumplicidade

Fomos cúmplices na arte de ser mãe. Lembra como nós dizíamos? Vamos falar baixinho, esse assunto é só nosso, se não, vamos ser apedrejadas pela sociedade. O fato é que para nós, ser mãe ao pé da letra foi um ato de extrema ousadia. Fizemos escolhas delicadas. Deixamos nossos corações falarem mais alto. Optamos pela contramão. Mas é porque lá no fundo nós duas sabemos, somos intensas e até contraventoras. Fizemos e vencemos!

Criamos nossas meninas em grande estilo, não de pompa, mas de presença. Trocamos mil interesses por um tesouro que agora se revela claramente com a sua partida…

Café de Despedida

Da última vez que nos encontramos para um café de negócios, trocamos material de estudo e como sempre, confabulações sobre o mundo materno e familiar. Falamos sobre as atividades na FAK – Fundação Allan Kardec – , nossos planos e nos oferecemos apoio mútuo. Quem sabe, num futuro próximo, a gente não ia se encontrar para trabalharmos juntas de novo?

A FAK foi um lugar que frequentamos, mas não nos encontramos. Falei lá com sua mãe algumas vezes. E ela me contava de vocês, das viagens para Fortaleza e dos estudos da Doutrina Espírita que todos faziam juntos.

Deus estava tecendo tudo com perfeição, e agora entendemos como Ele preparou bem a você, à família na qual nasceu e à família que construiu.

Rosa

Heliana, “foi o tempo que dedicaste à tua ROSA que fez tua ROSA tão importante”.

Tua família, amiga, teu bem maior! O Cravo Fernando Carlos, A Roseira Heliana, e as ROSAS Gabriela, Isabela e Manuela. Um jardim regado com gotas de suor e meiguice. Você transpirou perfume de amor. Amor pleno, desinteressado, sem pedir nada em troca. Sua ambição era apenas amar intensamente. E você realizou este objetivo em plenitude.

As meninas ROSAS têm lugar cativo no meu coração. Peço que você me dê oportunidade de ser útil a elas. Dedico o meu amor ao jardim que você deixa plantado aqui na terra.

Siga em paz com toda a sua alegria, esse bom humor incomparável e o poder de adaptação a qualquer cenário. Aqui estamos honrando e amando a sua memória. Nos comprometemos a dar suporte para as tuas três Lilizinhas, as ROSAS da sua vida.


Enquanto rezava para que a sua partida fosse em paz, tocou esta música. Tomei como comunicação, a letra parece muito com a sua história.

VILAREJO – Marisa Monte

Esta outra música, eu lhe dedico pelo nome

Rosa – Pixinguinha

P.S. As palavras em caixa alta têm significado especial nessa história.

Heliana Mara Zau Vieira Rosa

9/1/1970 – 18/10/2019

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