Silêncio

01 julho, 2014Flávia Frota

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Há momentos em que tudo que mais preciso é ficar sozinha, fazer companhia para mim. Nessas horas chego a pensar que tenho um caso de paixão comigo mesma e passo a ter certeza de que realmente sou uma pessoa muito agradável, a parceira ideal para um instante de reflexão e devaneios.

Ah, o silêncio! Meu companheiro de inspiração e poesia, ele me acalma, aconselha e compreende. Perto dele não deixo ninguém adentrar à nossa bolha de tranquilidade sonora.

Somos cúmplices, muito parecidos, na verdade ele é a minha cara metade. Ao seu lado consigo levitar, viajar por mundos distantes aos quais acredito já haver pertencido. Lugares fictícios e ao mesmo tempo familiares, paisagens, flores, varandas, fazenda e gado. Tudo com cheiro de mato e terra molhada, colonos sorrindo e crianças levadas.

Como ele abro a guarda somente para pequenos prazeres, o canto do galo e o som do riacho, por exemplo. Mas tem também o badalar do sino da igreja, esses sons de ternura e acalanto me parecem um tipo de silêncio musical, quebram aquela monotonia gostosa sem fazer barulho. Eles chegam a passos lentos para não perturbar, querem mais é parecer uma canção de ninar…

É assim que o silêncio me escuta, auscultando minh’alma desvairada de amor e desejo pela solidão em boa companhia, lado a lado com a minha metade mais íntima e indecifrável: meus pensamentos e segredos.

Amigo silêncio, é quase 0 [zero] hora, sinta todo o simbolismo que envolve esta crônica escrita na calada da noite. Noite calada e pensativa como eu e você. Todos dormem para permitir o meu direito de criar, e assim as palavras voltam a habitar meu mundo, chegam aos poucos e discretamente vão-se dando as mãos e formando o que o leitor mais gosta: a possibilidade de imaginar.

Psiu! O silêncio é a alma do negócio, vamos guardar esse segredo só para nós, eu e o silêncio prometemos não contar nada a ninguém, agora é sua vez de calar e ouvir o som do nada respirando tímida e silenciosamente ao longo desta noite de uma paz sem fim…

Universitária da UNIP apresenta a crônica Silêncio em seminário.