Sozinho

30 agosto, 2016Flávia Frota

Vó Dindinha e Eu

Sozinho

Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois
Eu fico aqui sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois. […]
Quando a gente gosta é claro que a gente cuida. […]
Onde está você agora
?

Peninha

Vó Dindinha

Hoje me peguei cantando essa música que marcou a maior perda da minha vida: a morte da minha avó materna – Rocilda Bezerra – carinhosamente chamada de Vó Dindinha.

E qual a minha surpresa? Não dói mais, passou… A recordação que a canção desperta continua, mas já deixou de ser triste.

No lugar da melancolia agora há uma sensação de plenitude, a lembrança de tempos felizes, a percepção de que a presença marcante continua, apenas a forma se modificou. O amor prova que é capaz de sobreviver à morte.

O medo de sofrer é pior que o próprio sofrimento

Vó Dindinha sempre foi o meu grande amor e o meu refúgio, por isso o maior medo da minha vida era perdê-la. Sei que eu e meus irmãos éramos a razão da vida dela.

Quando eu tinha nove anos ela sofreu um infarto. Embora tenha se recuperado, ficado bem e voltado a ser exatamente como era, achei que sua vida estaria para sempre por um fio.

Engano meu. Ela continuou ativa e fazendo tudo o que sempre fez. Embora já não fosse mais responsável pelas tarefas domésticas, nunca deixou de estar à frente da cozinha, supervisionar a lavagem de roupa e dar conta da casa.

Quando a gente gosta é claro que a gente cuida

Netos

Sua maior alegria era estar na companhia dos netos e fazer nossas vontades. Toda a dedicação do mundo era pouca, ela não tinha trabalho com a gente, tinha prazer.

Nós éramos seu combustível para amar mais e mais. Minha vó era a verdadeira mulher maravilha, ela não parava, nunca estava cansada e jamais a vi reclamar de dor.

Embora meu pavor de perdê-la tenha começado cedo, ela só partiu 20 anos depois, aos 92 anos. Eu estava com 29 anos, grávida de cinco meses, da minha primeira filha.

Ali entendi que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. Ele levou minha vó, mas trouxe minha filha. A vida é assim, feita de ciclos e passagens.

Onde está você agora?

Após 17 anos, estou aqui, inspirada, consolada e confortada. A lembrança dela é constante, real e presente. Quando fico triste lembro que ela continua me amando e protegendo, que serei sempre sua netinha linda e perfeita, que posso contar com ela para o que der e vier.

Vó, eu te amo como sempre te amei, sinto teu amor e cuidado a todo momento. Tu soubeste aproveitar muito bem a segunda chance que Deus dá aos avós, tua dedicação incondicional aos netos foi a mais completa tradução de que quando a gente gosta é claro que a gente cuida.

Obrigada, Vó! Por sempre ter acreditado em mim, pelo incentivo e perdão, por jamais ter me julgado ou condenado. Obrigada por ter percebido e despertado o melhor de mim.

Nesse momento as lágrimas escorrem, hoje não vai dar para ouvir Sozinho. Mas amanhã, sei que fica tudo bem de novo. Porque contigo, eu jamais fico sozinha, sei que estás comigo agora e por toda a eternidade. Estás onde sempre estiveste, ao meu lado e dentro do meu coração.

Esta crônica foi publicada no jornal Amazonas Em Tempo dia 17/9/2016

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Jornal Amazonas Em Tempo – 17/9/2016

 

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Jornal Amazonas Em Tempo – 17/9/2016

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