Photoshop, Maquiagem e Hipocrisia

28 agosto, 2012Flávia Frota
“Também já to ficando cuíra (incomodada aka puta) com esse deboche em cima da candidata Vanessa (sobretudo vindo de mulheres), com montagens “engraçadinhas” (desrespeitosas) que fazem referência (preconceituosa) à sua pigmentação de pele (branca), à recauchutagem no cabelo e às demais interferências no visual. Muito escroto isso. PS: não sou militante de partido algum, não trabalho para a Vanessa e meu voto provavelmente não vai para ela. Mas, pô, colegas mulheres, vamos ser menos escrotas com nosso sexo. Acho que ela tem mais é que se cuidar mesmo”.
Elaíze Farias – Jornalista
(Via Facebook – copiado na íntegra)
 
 
 
Política e economia são assuntos que não me despertam interesse, embora trate meu voto com cuidado e responsabilidade. Mas os recentes ataques à Vanessa, candidata a prefeita de Manaus, já estavam me intrigando há algum tempo. E como diz a nota acima, meu voto possivelmente também não vai para esta candidata, não milito em nenhum partido, nem trabalho para ela, mas sou a favor de respeito e bom senso.
Hoje, numa rede social, deparei com mais uma montagem “engraçadinha” e depois – em outro post – com o texto citado acima. Realmente, brincadeira tem limite, diz o ditado que o seu direito termina quando o do outro começa. Quem de nós gostaria de ter o rosto estampado com comentários zombeteiros?
Não sejamos hipócritas julgando os políticos como pessoas de moral inferior, afinal de contas, vivemos em um país democrático, e eles são eleitos pelo povo, ou seja, por cada um de nós. E muitos dos erros que eles cometem em grande escala, vários de nós praticamos – e compactuamos – no dia a dia achando tudo normal, e até rindo do jeitinho brasileiro de burlar e trapacear, normas, regras e leis.
O que há de diferente entre Photoshop e maquiagem? Praticamente servem para a mesma coisa, encobrir imperfeições e tornar a pessoa mais bonita. Hoje o Photoshop tornou-se tão acessível e banal que todos estão usando. Os filtros do Instagram –  e demais aplicativos – são uma espécie de Photoshop usado sem cerimônia. Então por que ridicularizar a candidata e até mesmo outros candidatos só porque fazem uso deste recurso?
Numa sociedade que valoriza excessivamente o culto ao corpo, ao belo e à juventude, não é de admirar os candidatos aderirem aos caprichos da vaidade em busca da “boa aparência”. Todos nós somos vítimas dessa ditadura, uns mais, outros menos. Vivemos num mundo em que há muito tempo o “ter” e “parecer” superaram o “ser”, pelo menos para a maioria.
Se maquiagem, Photoshop, sorriso, falácia, demagogia, mentira e carregar criancinha no colo não ganhasse eleição, nenhum político faria uso dessas estratégias. Mas infelizmente isso dá resultado, dá voto!
Até que a Vanessa resistiu por longos anos a este estereótipo, mas finalmente se rendeu às vontades do “mercado”, digo, eleitores. Sejamos sinceros, se o povo não tem o governo que merece, pelo menos tem o governo que escolhe, e na hora de fazer a escolha dá extrema importância para aparência física e moral, daí o uso indiscriminado do Photoshop nas fotografias e do Marketing na campanha política. Votamos como consumimos, seduzidos pela propaganda.
E ainda perguntaria: Quem valoriza mais o Photoshop e as aparências, os políticos ou os eleitores? Atire a primeira pedra aquele que não tem vaidade e não se deixa fascinar pelo belo! Para se livrar do efeito Photoshop nos candidatos temos que primeiramente eliminar o culto à aparência de dentro de nós mesmos e valorizar a verdadeira essência das pessoas, incluindo aí a classe política também.
Deixemos de hipocrisia e respeitemos a dignidade e a liberdade das pessoas, sejam elas políticos ou não. Afinal “ser humano” significar ser humanitário, que ama seus semelhantes. E se não for possível amar, pelo menos, como seres civilizados que somos, devemos conviver educadamente.
 
P.S.: Volto a lembrar que não faço campanha para nenhum candidato, mas respeito todos eles e seus eleitores.