Papai Noel Ribeirinho – Ele existe e tem muitos amigos

24 dezembro, 2011Flávia Frota

Há alguns anos conheci os Amigos do Papai Noel pela televisão, e  ao ver a entrega de presentes para crianças ribeirinhas, me apaixonei pelo trabalho do grupo. A partir de então passei a nutrir uma vontade secreta de ir com eles. Este ano, finalmente, decidi ser mais uma voluntária a distribuir sorrisos pelo Amazonas.

Confesso que meu sonho mesmo era ir de barco, mas no dia da rota não pude comparecer. Embarquei no sábado seguinte, feliz da vida e cheia de expectativas. A equipe seguiu de balsa para o Careiro, e eu fui de voadeira, numa viagem cheia de emoção e… medo! Não sabia que esse meio de transporte realmente voava, e se não fosse por uma causa tão nobre, teria perdido o autocontrole.

Em terra, e já passado o susto, a aventura de “turismo ecológico solidário” prosseguiu por estradas de barro em meio a muita pobreza. Praticamente tudo é precário e abandonado, as diferenças sociais e de estilos de vida saltam aos olhos e levam a uma série de questionamentos, ao mesmo tempo em que remetem às nossas origens, tão esquecidas no dia a dia.

Com orgulho e desalento percebemos o contraste entre as belezas e riquezas naturais e a situação de esquecimento em que vive o caboclo das comunidades ribeirinhas. Pele, cabelos, dentes, estatura, rostinhos tristonhos e um certo ar de envelhecimento, são características que denunciam a carência de alimentação adequada, vitaminas e assistência médica, entre outras privações que essas crianças sofrem.

A infância muito humilde dos meninos e meninas beneficiados pelo projeto, não permite a seus pais proporcionar-lhes ceia, roupa nova, nem brinquedo de Natal. Por tudo isso, a chegada do Papai Noel era aguardada com ansiedade nas quatro comunidades que visitamos: Purupuru, Nova Aliança, Miriti e Ramal do Cobra, todas próximas de Autazes.

Como num passe de mágica, os problemas deram uma trégua, a alegria tomou conta dos semblantes infantis, os olhinhos passaram a brilhar e a felicidade ressurgiu. Abraçar o Papai Noel e receber um presente eliminou por instantes as desigualdades, fez lembrar que todas as crianças são iguais, com sua magia, pureza e ingenuidade.

As três primeiras comunidades ficam à beira do rio. Logo após receberem os brinquedos e saborearem o lanche os pequenos desciam os beiradões parecendo um monte de formiguinhas, entravam nas canoas e saiam remando de volta para casa. As águas calmas e espelhadas ficavam ainda mais reluzentes com o brilho prateado dos saquinhos de presentes e o sorriso das crianças.

A audácia e o diferencial desse trabalho estão justamente em transpor as distâncias e o isolamento para levar um pouco de carinho e prazer a quem vive afastado da civilização. As crianças dos centros urbanos, mesmo sendo carentes, têm mais visibilidade e oportunidades em relação às das brenhas longínquas.

O Papai Noel só entrega presentes uma vez por ano, e para muitos desses pequenos, uma vez na vida. Mas a lição de que é possível sonhar e realizar serve de exemplo. Podemos transformar uma vida, mesmo que por um dia, já é um começo. O milagre da multiplicação dos pães está em nossas mãos, podemos multiplicar o amor com doação de brinquedos, dedicação, generosidade, enfim, qualquer gesto que faça diferença na vida de quem recebe e mais ainda na de quem dá.

Esse é o milagre do Natal! O nascimento de Jesus simboliza a chegada da esperança, fé em um futuro melhor, de amor ao próximo através de atitudes que possam melhorar o mundo.

Feliz Natal, querido leitor!
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Leia também: É mesmo Natal?

* As fotos incluem também outras comunidades visitadas pelos Amigos do Papai Noel.